A Lenda de Lílian

IV - Da origem do Natal dos Bruxos

Lílian nunca contara - nem mesmo para Ahme - o que vira naquele espelho, e quem encontrara naquela sala. No entanto, conseguiu algo de positivo daquela aventura: o garoto cabeludo que encontrara, Tiago Potter, se tornara um amigo.

Os dois eram diferentes como água e óleo - ela era tímida, medrosa, e criada entre trouxas. Ele era encrenqueiro, tagarela, e criado no mundo bruxo. Eram inteligentes, cada um à sua maneira. Como diria um amigo deles, Remo, "se juntasse Lílian e Tiago num bruxo só, teríamos um belo dum candidato à Merlin, vocês não acham?"

Era verdade que os dois não se falavam muito - aos onze anos, rapazes e garotas são seres de planetas diferentes. Assim sendo, Lílian andava com Ahme Patil, e Tiago andava com Remo Lupin e Sirius Black, faziam coisas diferentes e raramente se encontravam fora da Sala Comunal ou na hora do almoço. Sentavam todos juntos e até conversavam, mas andavam em bandos separados.

O fim do ano estava chegando e Lílian teria que voltar para casa para o Natal. Ahme ficaria, pois os pais estavam visitando o irmão, funcionário do Ministério da Magia que tinha sido recém-transferido para Nagoya, no Japão. Tiago também ficaria para trás, em Hogwarts. Os dois se falaram antes que ela fosse embora.

 

- Tome - ele lhe passou um pacote - Só abra no Natal.

- Eu não tenho nenhum presente para lhe dar...Não tinha como comprar.

- Não precisa. Fico contente se você escrever. Vocês podem usar corujas lá no mundo dos trouxas, não podem?

- Só às escondidas...Mas eu lhe escrevo. Prometo.

 

O pacote seguiu no colo da garota durante toda a longa viagem até Londres. Era lindo, embrulhado em um papel de presente dourado - coisa que, Lílian suspeitava, tinha sido "preparada" por Tiago com a ajuda de algum adulto. Pensar em Hogwarts e nos amigos lhe ajudou a enfrentar o medo de voltar para casa - não sabia o que esperar, nem o que dizer para os pais. O que eles iriam perguntar sobre Hogwarts? E o que Petúnia iria falar dela?

Lembrou-se que a irmã completara dezesseis anos enquanto ela, Lílian, estava em Hogwarts. Enviara um cartão via coruja, felicitando-a pela data, mas não sabia se tinha chegado - não recebera nenhuma resposta. Lílian nunca se esquecia de que Petúnia era "um caso à parte" entre os bruxos, e que sua mãe dissera para não mencioná-la nas conversas em Hogwarts.

Ainda assim, gostava da irmã e preferia que ela não a humilhasse tanto. Mas não tinha outra saída senão aceitar e aturar o que Petúnia tinha a dizer.

Sua casa estava linda, toda decorada para o Natal. A Sra. Evans tinha caprichado na árvore e nas guirlandas de porta, nos pacotes de presentes e nos pequenos detalhes das lâmpadas e enfeites.

Os trouxas talvez perguntem porque os bruxos comemoram o Natal, e eu diria que é pelo mesmo motivo que os trouxas comemoram o Dia das Bruxas - os modismos atravessaram fronteiras, e deram origem a essas duas comemorações, nos dois mundos. Foi tudo "culpa", por assim dizer, de bruxos como os Evans, que moravam entre os trouxas e decidiam agir como eles. Daí para a frente, a comemoração pegou e ficou famosa. O sentido cristão, do nascimento de Jesus, se dissolveu com o tempo, como aconteceu com o sentido que os bruxos dão para o Halloween, que os trouxas não conhecem.

Petúnia estava na sala, o cabelo loiríssimo como uma gema de ovo, falando no telefone. Fingiu que não tinha visto a irmã - mas tinha visto e se assustado. Lílian crescera muito no ano que passara longe de casa. Já podia ouvir os pais perguntando daquela escola de malucos, e voltou ao telefone com o namoradinho.

Lílian, na cozinha com os pais, perguntou como Petúnia estava, e o pai rugiu alguma coisa em desaprovação. Depois, começou seu rosário de preocupações:

 

- Sua irmã é uma desgraça. Repetiu o ano na escola, e só quer saber de andar para cima e para baixo com esse tal de Válter. É Válter isso e Válter aquilo e Válter comprou um carro e sei lá eu mais o quê. Nem bruxo o garoto é, e ainda por cima tem a mesma mentalidade da sua irmã - bruxos são o demônio, bruxaria é maluquice... Onde foi que eu errei com ela? Demos a mesma educação para você e para ela, e olha no que foi que deu.

- Poupe a Lílian, amor - a Sra. Evans interveio - Ela deve estar cansada da viagem, não é mesmo?

- Isso me faz lembrar... - o Sr. Evans disse - O John Potter me mandou uma coruja por esses dias. Parece que você andou conhecendo o filho dele, não é mesmo?

- O Tiago? - a Sra. Evans quis saber.

- O Tiago está na mesma casa que eu, Grifinória - Lílian esclareceu - Ele me faz rir muito.

- É bem o filho de John Potter - a Sra. Evans sorriu - Igualzinho ao pai dele. Estudamos os três juntos em Hogwarts. Ele dava aulas lá, até que se aposentou. Aposto que esse Tiago é bastante irrequieto.

 

Lílian não teve tempo de responder, porque Petúnia entrou na cozinha batendo portas.

 

- Papai, o Válter quer vir aqui conhecê-lo. Disse que o senhor estava doente e não vai poder recebê-lo.

- Como não? Por que isso, agora?

- Por que eu não quero que ele veja o senhor até que o senhor me prometa que não vai contar nada dessa história de bruxaria para ele. Não quero que ele se afaste de mim porque eu sou filha de vocês!

 

Phillip Evans não costumava perder a paciência com facilidade. Mas daquela vez foi impossível não ficar bravo.

 

- Lílian, Diana, por favor, saiam. Eu quero conversar com a Petúnia a sós.

 

Lílian saiu escoltada pela mãe, com medo do que aconteceria com Petúnia. Sabia que a irmã tinha "feito por merecer" o castigo que provavelmente teria, mas não conseguia - sob nenhuma forma - deixar de sentir pena dela.

Continua

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