A Lenda de Lílian

II - Sombras

Petúnia e Lílian cresceram na mesma casa, com os mesmos pais, mas em mundos completamente opostos. Desde criança, a filha mais velha dos Evans demonstrava o que, no mundo bruxo, era chamado de "comportamento mundano". Ela adorava festas e coisas caras, coisas que os Evans nem sempre tinham condições de comprar. Não que ela fosse mimada, os Evans não teriam como mimá-la. Mas Petúnia queria as coisas que os outros tinham.

O que ela queria mesmo era uma "família normal", como a família de suas amigas de escola. Uma família que não recebesse notícias via coruja e não tivesse coisas como óleo de fígado de dragão e suco de abóbora nos armários.

Acima de qualquer coisa possível ou imaginável, Petúnia se resignava a odiar a irmã caçula. Lílian, quatro anos mais nova e completamente diferente dela. Petúnia tinha o cabelo cor de rato do pai e o nariz engraçado da mãe, Lílian era ruiva e pálida como um retrato de Botticelli. Era amável e educada e acima de todas as coisas, Lílian sabia se fazer presente sem dizer uma palavra. Era magia? Só podia ser. Petúnia tinha que ser mal educada e mimada e se fingir de burra para ser notada pelos outros. Lílian tinha apenas que sorrir.

Quando A Carta chegou, Petúnia tinha quinze anos e Lílian tinha acabado de completar onze. Petúnia se lembrava exatamente do dia, porque tinha pintado o cabelo de loiro na manhã anterior. Diana não tinha gostado nem um pouco.

 

- Ao invés de ficar se preocupando com seu cabelo, deveria se preocupar com as suas notas! Até para um trouxa elas são horríveis!

- Mãe, maldito termo! "Trouxas"! Vocês é que são a aberração, eu não!

 

Diana nunca erguera a mão para nenhuma das filhas, mas daquela vez não houve perdão. O tapa que Petúnia tomou lhe doía no rosto até agora. Sentia como se o mundo tivesse desabado. E Aquela Carta fora a pá de cal no túmulo dos sonhos de uma família "normal" para Petúnia Evans.

Escola Hogwarts de Magia e Bruxaria. Eles queriam  sua irmã. Queriam Lílian para ser uma de suas alunas. Mais uma bruxa na família. E ela vendo o mundo como ela via, o mundo "verdadeiro" nas ruas de Londres, os amigos rindo das corujas que saíam pelo telhado, os bruxos que percebiam Lílian no caminho por ela simplesmente sorrir.

A criança que veio nasceu com uma grande missão.

A voz daquele velho, no dia em que Lílian nasceu. Podia ouvi-la ainda, embora fosse menos do que uma criança quando ela foi proferida.

A criança que veio.

Petúnia saiu de casa correndo, não querendo, não podendo ouvir mais nada. Queria morrer. Ela estava lá, ela também estava lá. Não a veriam. Não perceberiam. Mas ela estava lá.

Continua 

De volta à Balada


Utilizado com autorização da artista.