III - O outro Weasley

 

- Quem é a garota, Carlinhos? - Gui apareceu na frente da casa.

- Marian Godrichild. Prima do Harry.

- Muito prazer - Gui disse, estendendo a mão. Marian o cumprimentou, encarando o rapaz com um pouco de frieza. Ele tinha um brinco na orelha que mais parecia um dente de dragão, e tinha o rosto marcado de sol. Pelo que Ron contava, Gui tinha sido chefe dos monitores em seu tempo de Hogwarts, e agora trabalhava para o Gringotes.

- Acho melhor ir embora. - Marian disse - Vejo você amanhã, Carlinhos.

- Até amanhã, Marian.

 

Ela entrou no carro e saiu, em direção à sua casa. Carlinhos acompanhou o carro com o olhar. Seu maior medo, em relação a Gui, não era mais a competição ou qualquer coisa parecida. Era que ele lhe roubasse Marian. Ele realmente gostava dela, mas todas as garotas com quem ele conversava acabavam se esquecendo dele quando viam Gui. Será que a mesma coisa iria acontecer daquela vez?

 

- Garota bonita - Gui disse com um sorriso - Ela é sua namorada?

- Não. 

 

Carlinhos ficou ali, na escada na frente d'O Celeiro, pensando que Gui poderia ter feito qualquer pergunta, menos aquela.


- O Carlinhos tá apaixonado pela Marian - Ron disse, fechando a janela do quarto - Vi os dois conversando aí fora, nunca vi meu irmão desse jeito.

- Se os dois ficam juntos, já pensou, Harry? - Jorge deu uma risada - Ficamos todos na mesma família!

- Eu iria achar legal - Harry disse, olhando para o teto.

- Como você está se virando, na casa nova?

- Estou estranhando um pouco ainda... mas eu estou adorando!

- Eu mandei uma coruja para a Hermione contando a novidade. - Ron disse.

- Ela já te respondeu?

- Ainda não. - Ron pareceu meio decepcionado, mas ninguém percebeu.

 

Harry dormiu no quarto de Ron naquela noite. Há dias que tinha o mesmo sonho. Ele estava em um corredor escuro, e um barulho de ensurdecer tomava seus ouvidos de assalto. A única luz que ele tinha vinha de sua varinha, e ele caminhava decidido, mas com os joelhos tremendo. Ele parecia mais velho, muito mais velho do que era hoje. E à sua frente, amarrada em uma pilastra, Marian. Ela estava morta, mas ao mesmo tempo ele podia sentir sua presença ali. Ele olhava para ela, e de repente ela não estava mais amarrada na pilastra, mas sim montada em um dragão, correndo na direção do horizonte. Ele também não estava mais em um corredor, mas em campo aberto - em Hogwarts. E ele podia ver Ron e Hermione junto com ele. E eles também estavam mais velhos.

A última coisa que Harry lembrava, antes de acordar, era Marian gritando para ele, por cima do dragão, "eu vou buscar ajuda". Depois disso, ele sempre acordava. Dessa vez, ele acordou e já era dia - Ron estava procurando seus sapatos embaixo da cama.

 

- Ô Harry, acordei você?

- Não... - ele disse, chacoalhando a cabeça - Que horas são?

- Não sei, mas minha mãe está preparando o café. Vamos descer?

- Vamos.

 

Os dois chegaram na mesa do café, onde Percy, Fred, Jorge, Carlinhos e Gina já estavam tomando café, conversando animadamente. Uma coruja tinha chegado para Ron, vinda da casa de Hermione. Na carta, ela dizia que tinha adorado a notícia de que Harry não estava mais morando com os Dursley. Ela estava indo em férias para a Espanha, mas ia voltar para o aniversário de Harry. Ela perguntava se não tinha jeito de alguém buscá-la no aeroporto, porque ela não sabia direito como chegar na casa dos Weasley.

 

- Acho que a Marian pode dar uma carona para ela - Harry disse - Com o carro dela, ninguém ia desconfiar.

- Ela naquele carro está uma trouxa perfeita. - Carlinhos sorriu.

- Ela foi criada como trouxa, então isso não me surpreende - disse a Sra. Weasley, vindo do quintal - Ela teve uma infância difícil.

- É, ela me contou.

- Vocês dois parecem que estão se dando bem.

- Um pouco, sim.

- Olha, o Carlinhos tá ficando vermelho!

- Deixa seu irmão em paz, Fred!

- Mas mãe! Ele tá mais vermelho que um tomate!

- Ei, que barulheira é essa aí fora? 

 

todos correram para a porta. O barulho era Marian e seu carro. E na frente dele, parado como um poste, estava Gui. Já viram o que acontece quando Godrichild fica enfurecida? Em Hogwarts, ela fazia tremer janelas. Já aqui, ela fazia tremer Weasleys. Ela gritava com Gui, que tinha pelo menos duas vezes o seu tamanho, e ele não conseguia responder.

 

- ...e se eu não tivesse brecado, você...

- O que está acontecendo aqui?

- Ah, bom dia, sra. Weasley - Marian cumprimentou, toda educada - Seu filho resolveu ficar na frente do meu carro. Ele podia ser atropelado!

- Como?

- Acabar embaixo do carro. - ela apontou as rodas do carro - Isso aqui não é uma vassoura, sabia, Guilherme? Machuca que é uma coisa. Queria ver o que te acontecia se eu não tivesse brecado em tempo!

- E eu lá ia saber disso! - Gui reclamou.

- Seu pai tem um carro parecido.

- Tinha... - e ele olhou para Ron e Harry. Marian viu os dois garotos e, ignorando a presença de Gui, foi cumprimentar os dois. Eles se entendiam melhor do que ninguém.

- Marian, você quer tomar café com a gente? - a Sra. Weasley perguntou.

- Claro, aceito sim. - ela sorriu, enquanto brincava com o cabelo do primo. - Tudo bem, Harry?

- Tudo certo.  - ele sorriu, não sabendo se ficava com medo de Marian ou se achava graça na situação de Gui.

 

Carlinhos ainda estava na mesa quando Marian entrou. Os dois sorriram.

 

- Oi, Carlinhos.

- Oi, Marian, tudo bem?

- Fora seu irmão que quase parou embaixo do meu carro... tudo bem!

- Ele não viu você chegando?

- Viu mas não se mexeu. Ficou parado como um poste na minha frente!

 

E ele riu. Marian se sentou, e olhou em volta. A casa dos Weasley era a coisa mais simples do mundo, mas ela adorava o lugar. Logo, toda a família apareceu à mesa, e eles ficaram conversando até a hora do almoço. Marian acabou sendo convidada para almoçar, e diante dos protestos de toda a família e de Harry, ela não teve alternativa senão aceitar o convite.

 

Quando o almoço estava quase pronto, o Sr. Weasley voltou do trabalho. Ele parecia extremamente preocupado.

 

- Marian! Que bom que você está aqui. Precisamos conversar.

- Claro, Sr. Weasley.

- O julgamento de Lúcio Malfoy já foi marcado. - ele disse, com um fiapo de voz - Você vai ter que testemunhar diante do júri.

 

Continua...