IV - Declaração

 

Marian sentou-se no sofá e, inclinando-se, olhou para o chão. Os longos cabelos da garota, que batiam na cintura, arrastavam-se no chão. Ela não esperava por aquilo. Não queria ter de enfrentar Lúcio Malfoy sozinha. Não conseguiria. 

 

- Quem mais vai ter de falar?

- Dumbledore, Snape. Eles também foram convocados. Siôn McHeath é o advogado de acusação.

- Siôn McHeath? O Siôn McHeath? - Percy gritou.

- Quem diabos é esse sujeito? - Marian perguntou.

- É um dos maiores bruxos de seu tempo, eis o que ele é!

- Nunca ouvi falar - Marian respondeu. Ela se levantou do sofá e ajeitou o cabelo - Está bem. Eu vou. Não me sobrou alternativa.

 

Ela se levantou, e olhou para Harry. Parecia desolada.

 

- Por que você está triste, Marian? Ele vai ser julgado e vai ser preso! - Rony disse.

- Ele tem dinheiro para comprar o júri inteiro. Eu tenho medo do que ele pode fazer comigo. Mas enfim... - ela suspirou - Estarei lá. Por sua causa, Harry.

 

E ela parecia sorrir, ao olhar para o primo. Mas ao mesmo tempo, seu olhar era aterrador. Como se ela soubesse que alguma coisa ia dar errado. Ela não queria enfrentar Lúcio Malfoy. Não sozinha, não com Snape como aliado. Não sabendo que ele poderia ser inocentado. 


Enquanto isso acontecia, os Weasleys mais velhos estavam em pé de guerra por causa de Marian. Carlinhos parecia cada vez mais incomodado com a presença do irmão. E tudo parecia convergir para uma briga. Marian dizia para que Gui parasse de implicar tanto com o irmão. Ele parecia não ouvir nunca. No dia seguinte à notícia que ela teria que depôr em um tribunal, Marian e Gui tiveram outra discussão por causa de Carlinhos. Os nervos de Marian estavam esticados, e com Gui pisando nos seus calos, era impossível que eles não brigassem.

 

- Você está do lado dele? - Gui reclamou.

- Eu não estou do lado de ninguém!

- Parece. Você só o defende!

- Se você parasse de implicar com ele, não teria motivos.

- Você me defenderia se fosse o contrário?

- Sim, eu defenderia. Por que?

- Porque eu tenho um motivo para que ele me odeie e eu tenha tanto para brigar com ele.

- Posso saber o motivo?

- Pode! - ele ficou vermelho da cor de um tomate - Você pode saber o motivo, se você quiser. Eu estou apaixonado por você, e ele também. O Carlinhos também ama você e nós estamos brigando porque...porque ninguém quer dar o braço a torcer. Porque você é a única que pode escolher alguma coisa. 

 

Sem voz, sem reação, ela só ficou olhando Gui sair correndo, batendo a porta. Não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Só sabia que a tal profecia fazia sentido, agora.

 

- Quando o sol raiar no solstício... - ela repetiu. De repente, ela se levantou e, dizendo para Harry que ele teria que dormir com os Weasleys, ela rumou para Opal Moor. Ia entrar na casa de seus pais. Procurar conselhos.


A porta precisou ser arrombada, e a poeira invadiu os olhos de Marian, fazendo-a chorar. A casa de Opal Moor lhe parecia tão familiar e ao mesmo tempo tão estranha. Os móveis ainda eram os mesmos, em tons de verde escuro. Na parede, uma foto do casamento de Keith e Sheila. Marian era muito parecida com a mãe - o mesmo tom de pele, o mesmo rosto redondo, os mesmos olhos verdes ( olhos como os de Harry, ela lembrou ). O cabelo cor de mogno, ela tinha herdado do pai. Em outra foto, um bebê aparecia no colo de Sheila. Ela sorria, orgulhosa. Ao lado, o escudo do Dragão Vermelho.

Finnigann, Marian pensou. Ela voltou-se para trás. Finnigann estava ali. Brincando na sala, engatinhando atrás da mãe. Finnigann estava ali. Ela podia senti-lo. Não podia mais vê-lo, mas ele estava ali. Ele sempre estaria ali. Ele viveria para sempre ali. Em sua mente, não ocorria nada de novo. Estava confusa e cansada.

Ela correu para o quarto dos pais e abriu o armário, em um impulso. Tirou vários robes de sua mãe, que ela não pôde levar na fuga. Um belíssimo, azul marinho com rendas vermelhas - ela se lembrava daquele, estava na foto do casamento dos pais de Harry - outro rosa e branco - aquele era o que ela usara quando Harry nasceu. Ela conhecia das fotos que tinha em casa. No fundo do armário, apareceu um robe branco, com flores bordadas na barra. Um véu estava preso à roupa.

Marian colcocou o robe perto de si e se olhou no espelho. Sua mãe tinha se casado com aquela roupa. Ela colocou o véu sob os cabelos e se observou novamente no espelho. Podia ouvir outras vozes em sua cabeça, vozes que ela não conhecia. Vozes que lhe falavam de um futuro próximo.

 

"Você aceitaria um dos Weasleys como marido", a voz lhe disse. "Você aceitaria se casar com um deles. E eu entendo. Eles são os heróis bruxos que você sempre procurou."

 

Marian olhou para trás. Um garoto de catorze, quinze anos lhe encarava. Por um instante, ela achou que fosse Harry. Mas o cabelo desse garoto era castanho como o dela.

 

"Quando o sol chegar, Marian, eu vou ser só uma memória...um sonho que passou...Você sempre foi amada, de algum modo. Eles sempre esperaram que eu voltasse...mas você sabe que os mortos só moram na nossa memória..."

 

Ele tinha a voz de Keith...uma voz doce, mas seca, triste e melodiosa.

 

"Você sabe que o seu destino está com ele. Você o ama. Vocês se entendem. Ele vai te honrar, mana. Ele não pode fazer outra coisa. Eu sei que Guilherme, ele mexe com você, com os seus nervos. Mas ele não sabe ainda o que ele quer. Eu vejo você, Marian, daqui a pouco tempo, aqui em Opal Moor...papai e mamãe estarão com você, e Harry e... eu também, embora não do jeito que eu gostaria que fosse..."

- Você era só um bebê. - Marian se limitou a dizer.

"Eu vivi o tempo que me deixaram viver. Mas você tem razão..eu existo só na sua memória. Escuta, Marian. Os que nos amaram vivem para sempre, Marian. E você e eu, nós vamos viver para sempre...eles nos amaram, e isso aquele Lorde não pode matar...porque sua alma foi amarrada, Marian, e agora ela está livre, e ninguém vai aprisioná-la de novo, nunca mais."

 

O sol começou a raiar, e aimagem de Finnigann Godrichild começou a dissipar com a luz. Marian não se mexeu. Ela viu o irmão sumir na luz, e depois caiu no chão. Quando conseguiu levantar, ela tirou o véu da cabeça.

 

- Eu sei, Finny. Eu gostaria que você estivesse aqui, também.

 

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