II - De volta para casa

 

- Eu preciso que você fique com os Weasleys hoje, Harry.

- Você vai aonde, Marian?

- Escute, não posso dizer, está bem? Ainda não, pelo menos.

- Mas por que não?

- Harry, por favor! - ela suspirou. - Eu não posso levar você comigo. É perigoso. Apenas faça o que eu digo e confie em mim. Eu vou cuidar de você, te lembra?

 

Harry ajeitou os óculos no rosto, e viu Marian de novo. Ela parecia preocupada, mas não queria demonstrar. Ele achou melhor fazer o que ela pediu, e foi para a casa de Ron. Marian pegou o carro e foi na direção norte.

 

É claro que ela não podia contar onde ela estava indo. Harry não iria entender. O lugar onde Finnigann foi morto. O lugar onde ela nasceu. Opal Moor ficava a cerca de duas horas de viagem de Ottery St. Catchpole, onde ela estava morando. Ela pensou em ir para Godrich's Hollow, mas sabia que não iria agüentar ver. Ela ainda podia ouvir a voz de sua mãe berrando nas suas orelhas. "Deixe-me ver meu sobrinho, Hagrid." Ela não poderia ir para a casa de Tiago e Lílian ainda.

 

Quando ela chegou em Opal Moor, ela seguiu direto para a última casa no fim da vila - a casa abandonada, com as janelas quebradas e um matagal como jardim. Só os bruxos viam aquilo. Era a casa de Keith e Sheila. Onde ela e Finnigann haviam sido concebidos e onde seu irmão encontrou a morte.Quem matara Finnigann? Será que Voldemort tinha feito o serviço? Não. Não tinha sido ele. Ela sbaia que não. Se fosse, ela não teria sobrevivido.

 

Encostada na grade, ela podia se ouvir aos três anos, brincando no jardim, enquanto a mãe alimentava Finnigann e conversando com a irmã. Podia ouvir Tiago Potter e Keith Godrichild conversando em um canto do jardim. E podia ver...sim, era Harry naquele berço, ainda sem a ferida que o deixou tão famoso. Podia ver a si mesma, olhando o berço onde seu primo dormia com a maior das curiosidades. Aqueles eram os Godrichilds e os Potters. Antes da noite que caiu sobre eles.

 

- Você destruiu minha vida, Voldemort. Dumbledore diz que eu não posso matá-lo...mas eu vou dançar na sua cova como se eu tivesse te matado, Voldemort. Tom Serveolo Riddle! Eu o chamo por seu verdadeiro nome, monstro. Eu queria a minha família. Eu só queria a minha família...

 

Ela se sentou, as costas apoiadas na grade. Sob as cinzas de um Lorde, Dragão e Lírio se uniram outra vez. Os versos daquela voz misteriosa se embaralhavam na sua cabeça. Era uma profecia, ela sabia. Somente profecias são ditas por vozes sem dono. Todos os fantasmas podem ser vistos, menos os que carregam profecias e maldições. E aquilo não era uma maldição. Aquilo era uma profecia, e falava dela. E de alguém que tinha sua alma em seu poder...

Lágrimas corriam de seu rosto. As vozes de seus pais, seus tios, seu irmão, voltavam e dançavam ao seu redor. Queria sua família. Era tudo que ela pensava. Ela olhou para cima, o céu azul da cor do estandarte de Corvinal. Era meio dia. As vozes ainda ecoavam em sua cabeça.

 

- Tom Riddle... você vai ter de me enfrentar. Um dia, você vai ter de me enfrentar. E você não escapa tão fácil...

 


 Marian passou a tarde em Opal Moor. Quando voltou para buscar Harry, já era começo da noite. A casa dos Weasley nunca pareceu tão quente e tão lotada. Parecia que Gui, o mais velhos dos filhos de Molly e Artur, tinha chegado do Egito ainda hoje. Mal Marian colocou os pés na sala, Ron veio correndo atrás dela.

 

- O Harry pode dormir aqui hoje, Marian?

- Hmm...está bem. Eu venho buscá-lo amanhã cedo.

- Legal!

 

Descendo a escada, depois que Harry e Ron sumiram de vista, vinha Carlinhos Weasley. Marian sorriu quando ele apareceu. Tinha esquecido da profecia, e praticamente de todo o resto. Mas, ao contrário dos dias anteriores, quando ele sorria para ela, ele parecia extremamente incomodado com sua presença. Tanto que passou sem sequer a cumprimentar.

 

- Carlinhos, você está bem?

- O quê? Ah, Marian! Não tinha visto você aí.

- Estranho. Você não parece muito legal.

- Meu irmão chegou hoje de manhã.

- Você deveria estar contente.

- Não, não deveria. Estou preocupado.

- Não entendo, desculpe.

- Você tem irmãos?

- Um, mas está morto. Morreu quando ele era um bebê.

- Desculpe...

- Tudo bem. Continue...

- Bom... Gui está sempre competindo comigo em tudo. É um inferno. Não gosto quando ele volta para casa porque o clima fica impossível de agüentar. Bom...pelo menos você está por perto.

- Você pode contar comigo para o que você precisar, Carlinhos.

- É bom saber disso.

 

Os dois engatilharam uma conversa - nada sobre dragões dessa vez! - sentados na frente d' O Celeiro. A noite estava ficando fria, e no andar de cima podia-se ouvir Percy brigando com Fred e Jorge por causa de alguma coisa quebrada. O vento balançava a copa das árvores em volta da casa.

 

- Carlinhos?

- Sim?

- Quando você vai voltar para a Romênia?

- No final do mês, creio eu. Não sei se eu quero voltar.

- Como assim, não sabe?

- Eu adoro estudar dragões. Mas mais um ano longe de casa, eu não sei se eu agüento. Como você pode perceber, somos uma família unida...

 

Nisso alguém apareceu na estrada que levava ao celeiro. Alto, cabelo muito comprido, e ruivo. Só podia ser uma pessoa.

 

- E esse chegando é meu irmão, Gui. - disse Carlinhos.

 

Continua

ao índice