V - A neta de Thomas
- Por que você saiu da sala comunal tão cedo, Harry? - Ron perguntou, logo no café da manhã.
- O professor Dumbledore me chamou.
- Mas para quê?
- Ô, Ron, não amola! - Fred cortou o papo - Cê não tá vendo a cara de sono do Harry?
- É mesmo! - Jorge comentou, olhando para Potter com um olhar de médico - Você não parece muito bem...Mas nunca vi um sorriso tão alegre num cara tão sonado...
- Até parece que ele gostou de ser acordado tão cedo... - terminou Fred, às gargalhadas.
Harry estava cansado. E nunca estivera tão confuso e alegre em toda a sua vida. Ele achava que os Dursley eram sua única família, até que ele encontrara Marian. Ele sabia que os dois eram muito parecidos - mas não sabia que eram parentes. Ele ainda podia se lembrar do sorriso dela. "Agora eu vou cuidar de você, Harry. Você não vai precisar mais voltar para a casa dos seus tios. Eu vou cuidar de você". Só de imaginar que ele não precisaria ver nunca mais a cara de Duda fazia com que seus pés saíssem do chão de alegria. Viver ao lado de Marian não parecia tão difícil quanto ter os Dursley como parentes.
- Harry! Harry! Vamos até a casa do Hagrid? - chamou Hermione.
- Vamos...
E lá foram Harry, Ron e Hermione para a cabana onde Hagrid morava com Canino. No caminho, eles encontraram justamente com Marian, enrolada no seu cachecol azul e verde, dando voltas pelo corredor, como era seu costume.
- Para onde vocês vão, pessoal?
- Até a casa do Hagrid. - Hermione disse, sorrindo.
- Quer vir com a gente?
- Bom, por que não?
Os quatro caminharam pelo pátio de Hogwarts, Marian olhando para o céu com uma ponta de desolação.
- Mas será que esse tempo não abre?
- Você não gosta de frio, né, Marian?
- Brr...odeio! Acho que acostumei com o calor do Sul.
- Você ia gostar do meu irmão. Ele mora no Egito e também desacostumou com o frio.
- E que teu irmão faz no Egito, ô Ron?
- Ele trabalha para o Gringotes lá.
- Legal...Ei! O que diabos o Snape está fazendo na casa do Hagrid?
Os quatro olharam com surpresa Severo Snape sair da cabana de Hagrid com olhos preocupados. Ele, no entanto, não ficou assim por muito tempo, pois assim que encarou Godrichild sues olhos voltaram ao normal de sempre. Marian, no entanto, fingiu que não viu.
- Bom dia, professor. - ela passou, sorrindo.
- Bom dia, Godrichild.
Marian entrou na cabana. Hagrid estava lavando louça - e a cena era engraçada, porque a pia da cozinha do guarda-campo de Hogwarts era do tamanho de uma banheira.
- Hagrid?
- Senhorita Godrichild! Como vai? E aí, Harry?
- Tudo bem, Hagrid?
- Tudo bem...
- O Snape esteve aqui? - Marian foi direto ao assunto - Vimos ele por aí...
- Sim, ele esteve. Está estranho, o professor Snape... preocupado com alguma coisa.
Aquilo não deixou a cabeça de Marian o dia inteiro. Snape quase nunca saía de sua sala, e visitar Hagrid certamente não estava na lista de seus programas prediletos. Por que ele estava fazendo aquilo, então? O que estava deixando-o tão preocupado?
Os meses se passaram e até Godrichild se esquecera da visita que Snape fez a Hagrid no começo do ano. No momento, ela estava ocupada em escrever uma carta a seus pais. Não sabia bem o que colocar no papel. Pensou que sua mãe ia ter um troço no meio da sala se abrisse o pergaminho e lesse, "Encontrei meu primo - o filho de sua irmã, que você disse que não tinha." Também não seria...educado, para dizer o mínimo, se ela escrevesse o quanto estava brava com os pais por eles terem escondido a verdade dela por todos esses anos. "Vocês sabiam que o Finnigann era trouxa, por que me enganaram todos esses anos?"
Quando ela finalmente colocou a pena no papel, perguntando como tinha sido o Natal deles, um barulho de arrebentar vidros e derrubar coisas pelo chão. Assustada, ela deixou cair o vidro de tinta, que se espalhou pela mesa. Marian olhou para todos os lados, procurando saber o que tinha feito aquele som assustador. O som voltou, ainda mais forte. Era como um rugido. Ela pôde ouvir gente gritando e alguém batendo à sua porta. Godrichild abriu e encontrou Madame Hooch, sem chapéu e com ar assustado.
- O que aconteceu?
- Um monstro! Na entrada da escola!
- Um monstro?
Marian pegou sua varinha e o escudo de seu avô, e saiu correndo para a porta de entrada. Alunos e professores se acotovelavam, desesperados, fugindo para todos os cantos. Draco Malfoy, escondido em um canto, ria abertamente do desespero dos colegas. Marian olhou para a frente. Um dragão cuspia fogo na entrada da escola, montado por um cavaleiro com o rosto coberto com um elmo. Marian ficou paralisada por alguns segundos, olhando para aquele bicho. Três metros de altura, as escamas verdes grossas como couro, o dragão não parava de soltar labaredas para todos os lados. Dumbledore, Minerva e Snape tentavam dominar o monstro, sem sucesso. Foi quando algo brotou na mente de Godrichild. Uma voz mais velha, uma voz de homem sussurrava atrás dela.
"Atinja os olhos...os olhos.."
"Como?", Marian pensou, desesperada.
"Atinja os olhos do dragão! É a parte mais fraca! Vamos, Marian, se você é mesmo uma Godrichild então me prove! Jogue o feitiço nos olhos dele, minha neta, e ele cai!"
Marian correu para a porta, como se a voz estivesse atrás dela, acompanhando-a. Parou bem na frente do dragão, que a ameaçava com suas garras. Ela ainda chegou a ouvir Snape berrando para que ela saísse dali, que deixasse de ser boba.
Ela ergueu o escudo à frente de seu corpo, e a varinha na mão direita, como uma espada. O dragão parou de cuspir fogo. Ela pôde ver que o bicho tinha, além de um cavaleiro, algo amarrado em seu lombo. Parecia um menino... A risada de Malfoy vinha até suas orelhas. Ela sabia quem estava sendo levado pelo dragão. Ela olhara para o cavaleiro escondido atrás do elmo. Era a hora. Ela sabia quem era. E sabia o que fazer. Segundos se passaram, e imagens corriam a cabeça dela - imagens que ela não tinha vivido - seu irmão, seus tios, seu avô sendo mortos pelos seguidores de Voldemort. Ela podia ouvir seua avô no fundo de sua mente: "Corre, Elaine, foge! Foge!" E ela ouvia sua mente cantar o que sua mãe dissera: "Deixe-me ver meu sobrinho, Hagrid."
- Domine Draco! - ela gritou, mirando dentro dos olhos do dragão.
Um jato de luz saiu da varinha, derrubando Marian no chão. O dragão parecia em transe, congelado. Mesmo no chão, ela mantinha a mão na varinha, controlando aquele feitiço que ninguém parecia conhecer. Quando ela finalmente acabaou com o feitiço, o monstro tinha desabado no chão, dócil como um cãozinho de estimação. Todos os professores foram prender o cavaleiro, caído de sua montaria, enquanto Snape levantava Marian do chão.
- Como você fez isso? - ele perguntou.
- Meu avô me ensinou. - ela se limitou a dizer. Dumbledore se aproximou e tirou o elmo do homem montado no dragão. O rosto pálido de Lúcio Malfoy apareceu. Ele estava desmaiado. Marian olhou para o senhor - ela não sabia quem ele era, afinal - quando ouviu Minerva McGonagall chamar Madame Pomfrey. Ela se voltou para a vice-diretora. Deitado no chão, com um corte no pescoço e sangue correndo por seu corpo, estava Harry, desamarrado do corpo do dragão. Marian mal teve tempo de ver o primo - ele fora rapidamente retirado do local. Lúcio Malfoy, imobilizado, foi levado para a sala do diretor.
- Marian?
Era Snape. Ela se voltou para ele.
- Pois não, professor.
- Você é mesmo uma Godrichild. Ninguém poderia ter feito isso se não fosse filha do Keith.
- Você sempre se refere a meu pai com uma ponta de ironia... vocês não se davam bem na escola?
- Sim...éramos até amigos. Mas o melhor amigo de seu pai...
- Tiago Potter.
- É. Você ser sobrinha dele nunca ajudou muito. Mas... - ele se permitiu um sorriso que não combinou bem com o seu rosto - Você é mais inteligente do que eu poderia supor.
- Acostume-se com a idéia - ela sorriu, correndo atrás de Dumbledore.
- Ele não está bem, Marian. - Madame Pomfrey disse à Godrichild quando ela perguntou por Harry.
- Eu posso vê-lo pelo menos?
Ron e Hermione estavam ao lado de Harry, que parecia em sono profundo. O corte no pescoço parecia cicatrizado. Marian puxou uma cadeira perto da cama de Harry e ficou observando o seu primo por alguns instantes. Os três não falaram nada, apenas olhavam uns para os outros e esperavam alguma coisa acontecer.
- Sr. Weasley, Srta. Granger, vocês poderiam me deixar à sós com a professora Godrichild por um instante?
Era Dumbledore. Ron e Hermione saíram e deixaram Marian sozinha. Dumbledore sentou-se onde estava Hermione, de frente a cama de Harry.
- Lúcio Malfoy - o cavaleiro que estava montando aquele dragão - foi preso. Os guardas de Azkaban já o levaram. Ele vai à julgamento em breve, eu espero.
- Ele é...
- Pai de Draco Malfoy. Marian, Lúcio estava sob ordens de Voldemort. Ele ainda quer matar Harry...e agora ele vai querer matar você também.
- O último Dragão Vermelho - Marian suspirou.
- Toda dinastia vem com as suas responsabilidades... - Dumbledore sorriu - Mas eu tenho certeza que você poderá estar a altura do desafio. Afinal, você é uma Godrichild. Você protegerá Harry de Voldemort, mas nunca conseguirá matá-lo. Isso não cabe a você.
- Eu tenho algo a perguntar.
- Esteja à vontade.
- Eu vi o professor Snape...há alguns meses...saindo da cabana do Hagrid, e ele parecia preocupado. O senhor sabe...
- Ele estava lá a meu pedido, e eu peço para que você, por enquanto, não faça perguntas sobre isso. Você vai saber, quando chegar a hora.
Marian não sabia para onde olhar. Por fim, olhou para Harry.
- Professor Dumbledore?
- Sim?
- Eu vou poder cuidar do Harry agora? Eu não quero que ele volte para a casa da minha tia.
- Isso vai depender de como o Ministério da Magia vai resolver essa situação, Marian. Mas, por enquanto... - ele sorriu calmamente - Por enquanto você pode ficar cuidando dele.
- Certo. Obrigada, professor.
Marian ouviu os passos de Dumbledore se afastando, e ela se voltou para Harry. Ele parecia estar tendo um sonho tão bom...
- Eu vou cuidar de você, Harry. - ela sussurrou, para que ninguém pudesse ouvir.