De um milhão de sementes
somente a mais forte respira
você foi uma mãe milagrosa
e eu farei um homem de mim mesmo

Papai, para onde no céu foi o sol?
o que a gente fez de errado, por que isso morreu?
E todos os adultos dizem "sinto muito, crianças, não temos respostas"

Se vocês desejam mudar o mundo
deixe que o amor seja sua energia
eu tenho mais do que eu preciso
quando seu amor brilha sobre mim

Cada lágrima que você chorar
será substituída quando você morrer
por que você não ama seu irmão?
Você está fora de si?

Papai, para onde no céu foi o sol?
o que a gente fez de errado, por que isso morreu?
E se você não tem amor por mim então eu direi adeus.

Deixe que o amor seja sua energia
eu tenho mais do que preciso
quando seu amor brilha sobre mim.
Se vocês desejam mudar o mundo
deixe que o amor seja sua energia
não posso conter o que eu sinto
quando seu amor brilha sobre mim

Bem, se você quer isso, venha e defenda seu ponto de vista
Então quando isso estiver em suas mãos
as pessoas me mostram o amor

Deixe que o amor seja sua energia
eu tenho mais do que preciso
quando seu amor brilha sobre mim.

(Robbie Williams, Let Love Be Your Energy)

Lá estava ele, o cabelo um pouco mais ralo, mas ainda vermelho como sempre. Lá estava ela, o cabelo ainda imenso e encaracolado, ainda com aquela cara de sabe-tudo que tanto irritava as pessoas. A ocasião não era a melhor para lembranças, e ainda assim, elas eram inevitáveis.

Doze anos tinham passado como doze segundos. Num instante, eram eles saindo da plataforma nove e meia da estação de King's Cross pela última vez, formados e com destinos diferentes. Noutro, eram eles entregando seus filhos para Hogwarts. Hermione e Rony tinham três filhos, o mais velho indo para a escola de magia e bruxaria naquele dia.

 

- Doze anos. Parece que foi ontem - ele comentou.

- Parece mesmo.

- Queria que ele estivesse aqui.

- Eu também.

 

Rony olhou para Gina, sua irmã caçula, segurando pela mão um garoto de nove anos de idade. Ele ainda não veria o castelo de mil torres e o lago que parece um espelho, nem o grande salão principal iluminado por velas, nem os fantasmas caminhando pelo castelo de Hogwarts. E como ele se parecia com o pai! Rony olhava e não conseguia se conter. Ele tinha o cabelo bagunçado e era magrinho como Harry. Tinha osolhos de Gina e dos Weasleys, mas de resto era um Potter.

Que saudades que ele tinha do amigo que partira, o "garoto que sobrevivera" e o "herói que morrera" entregando a vida para derrotar Lord Voldemort. Estavam os dois mortos, Harry e Riddle. Todo mundo falava de Harry Potter como um herói, quase como um santo. Rony sentia saudade do amigo que tivera, do padrinho de seu casamento e de seu filho mais velho, do grande jogador de quadribol e grande pessoa que ele foi. Não queria o herói Harry, queria seu amigo de sempre. 

Cada lágrima que você chorar será substituída quando você morrer

Harry, isso não faz sentido. Você faz tanta falta.

 

Hermione arrumou a gola da camisa de Arthur, seu filho mais velho,muito parecido com Rony (mas com os dentes grandes da mãe). Gina se aproximou com um sorriso. Ela não queria conversa. Percebia-se pelo semblante triste que ela mantinha.

 

- Vim ver o Arthur partir - ela se explicou.

 

Gina nunca conversava com ninguém. Morava com o filho na casa que Harry tinha comprado em Hogsmeade. Não gostava de visitas, nem mesmo a dos irmãos. Não gostava de risadas, não gostava de lembrar de Harry. Isso a deixava triste. Rony compreendia em termos a atitude da irmã. Mas tinham se passados doze anos. Nem mesmo Harry gostaria de ver todo mundo triste por sua causa por tanto tempo. Mas como fazê-la entender aquilo?

Se vocês desejam mudar o mundo, deixe que o amor seja sua energia.

Ele desejou tanto que fôssemos felizes. Por que ela chora?

Eu sei, e nada posso fazer. Eu não posso trazê-lo de volta.

 

Arthur caminhou para a plataforma nove e meio. Hermione olhou orguhosa, e Rony poderia jurar que havia uma lágrima em seus olhos.

 

- Se cuide, Arthur! - ela disse - E não se esqueça de escrever!

 

Gina acenou e depois pegou o filho pela mão, para ir embora. Rony foi até ela.

 

- Daqui a alguns anos, vai ser ele.

- É, eu sei - ela suspirou - Ron, eu sinto tantas saudades.

- Todos nós sentimos. Não é só você. Mas a vida continua. Você tem o menino para criar. Tem uma vida toda pela frente. Não estou dizendo para você esquecer o Harry, mas estou dizendo para viver e deixá-lo orgulhoso também.

 

Ela sorriu. Pela primeira vez em muito tempo, ela sorriu de verdade.

 

- Talvez você esteja certo.

 

E, mãos dadas com o filho, Gina partiu. Rony sentiu - ou achou que sentiu - a presença do amigo ali, entre eles, olhando o seu filho, e sorrindo. Sorrindo com aquele jeito tímido e muito teimoso que só ele, Harry James Potter, tinha.

 

- Cuide deles, cara - Rony disse para si mesmo, e foi embora, com Hermione e as crianças.

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