Filho, ela disse
eu tenho uma historinha para você
o que você pensou que era o seu pai
era nada senão um...
enquanto você estava sentado
sozinho em casa aos treze anos
seu pai verdadeiro estava morrendo
sinto por você não tê-lo conhecido
mas estou contente que tenhamos conversado.

Eu, eu, eu ainda estou vivo.

Ela caminha devagar
cruzando o quarto do jovem
ela disse eu estou pronta...para você
eu não consigo me lembrar de nada
até hoje em dia
a não ser o olhar, o olhar...
agora eu não vejo nada, somente encaro.

Eu, eu, eu ainda estou vivo.

Há algo errado
ela disse
claro que há
você ainda está vivo
ela disse.
Eu mereço estar?
É essa a pergunta?
E se é, se é...quem responde?
Quem responde?

Eu, eu, eu ainda estou vivo.

(Pearl Jam, Alive)

Era apenas uma mulher caminhando secretamente pelas ruas desertas da cidade. O fato dela estar grávida de quase nove meses não comovia ninguém. Parecia que todos sabiam do segredo que ela guardava. Talvez não houvesse segredo - eles olhavam até com pena da pobre mulher de cabelos escuros abandonada por Tom Riddle. Mas ela se sentia cansada e culpada.

Como se tudo fosse um plano para estragar sua vida.

Eles foram felizes por cinco anos, e cinco anos durou seu segredo. Mas bastou uma palavra, e tudo desabou.

Bruxa. Feiticeira. Demônio.

Por que, Tom? Eu ainda gosto tanto de você.

Você ainda está vivo...e prometemos que só nos separaríamos na morte.

Por que, Tom? Eu prometi que nunca contaria. Por que você me forçou?

Sem um lugar para ficar e sem ajuda, ela caminhou até um hospital de freiras, que a acolheram em silêncio, sem fazer maiores perguntas. Muitos quilômetros vencidos sob neve e medo, cada vez com mais dor e cada vez com mais medo. Ela não chegou viva, mas simplesmente respirando, sem nenhum sinal de que iria sobreviver àquela noite. 

Era de manhã quando ela entrou em trabalho de parto. Chamaram um médico, pois o caso parecia mais grave do que as freiras estavam planejando. E era mesmo um caso de vida ou morte.

Aquela mulher desconhecida tinha dado à luz a um menino, miúdo, pálido, muito fraco. Ela mesmo não sobreviveu para ver a criança. Tudo o que ela teve tempo de dizer foi o nome que ela queria para a criança.

 

- Tom Serveolo Riddle. Tom como o pai dele, e Serveolo como o meu pai.

 

Ela pensou em seu amado Tom, que nunca a perdoaria por ser simplesmente o que ela era, uma bruxa. Pensou no que seria de seu filho, na dor que ele teria que sobreviver para crescer. Mas nunca pensou no que seria dela, no que aconteceria depois que ela morresse. Pensava somente em seu filho.

Aquela criança, que cresceria para ser odiada, que seria temida e que seria poderosa e que um dia, por ser demais poderosa e demais temida, seria destruída, jamais conheceu aquela mulher que lá estava, pensando nele com seu último suspiro, que nunca tivera chance de olhar em seus olhos e lhe dizer o quanto ele tinha sido amado, o quanto ele tinha sido querido, ainda que por um único instante.

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