Não existe tempo e espaço
para manter nosso amor vivo

Nós temos a existência e é tudo o que compartilhamos
Não existe realidade
não existem mentiras reais
Continue tentando, pois sei que está aí

Você pode simplesmente me dizer
que tudo está bem?
Me deixe dormir hoje à noite
Faça tudo parecer bem
porque eu não consigo fazer isto sozinho....

Não haverão mais canções de ninar
não haverão mais lágrimas choradas
Nós nos sentimos entorpecidos
porque não vemos
que realmente nos importamos
e que nós realmente nos amamos

Pense em toda a alegria que sentiríamos...
Não existe espaço e tempo...
não existe espaço e tempo...

Nós temos a existência e é tudo o que compartilhamos.

(The Verve, Space And Time)

"Não existe vida, apenas um bando de coisas juntas, parecidas com a vida que eu tinha antes de encontrá-lo. Eu sempre soube de tudo, claro. Convivi estes anos todos com ele, como eu poderia não saber de alguma coisa? Sempre me mantive quieta, claro. Não há sentido em perguntar estas coisas para o seu marido - sobre os bruxos que vinham aqui todas as noites, todas aquelas maldições e torturas. Não há sentido nisso. Agora que o Lorde das Trevas sumiu, ele volta para os que ele abandonou. E mais uma vez eu sou aquela que é abandonada sem maiores pudores.

Draco, você pode imaginar, não foi concebido em amor. Ele foi minha obrigação com a família de Lúcio. Eu me casei com ele para dar um herdeiro à legendária casa dos Malfoys. Ainda assim eu o amei como se ele fosse minha tábua de salvação. Se eu o mimei demais, foi porque não tinha ninguém mais que se importasse comigo. Ninguém naquela casa gostava de mim. Eu era apenas um brinquedo para que Lúcio mostrasse aos amigos - a esposa bela e educada, que tinha dado a ele o filho que ele tanto queria. E eu sou obrigada agora a deixar a única coisa que realmente me importa nesta vida, porque Lúcio quer treiná-lo. 

Eu ganhei muitas jóias e muitos presentes, sempre fui cercada de todo o conforto que um homem rico poderia proporcionar. Nunca me faltou nada, devo ser sincera. Tudo o que eu quis, materialmente falando, eu tive. Mas nunca pude me aproximar muito de Draco. Lúcio dizia que ele precisava ser criado para ser forte, ser um Malfoy - e eu hoje me vi obrigada a deixá-lo ir. Eu ainda o mimo, quando me deixam. Lúcio exige que eu pare com isso,  que eu vou estragá-lo. Mas eu não me importo...ele sempre será meu filho, mesmo que me deteste. Mesmo que me ignore.

E quanto à Lúcio? Se eu ainda o amo?

Não acaba o amor que não existe, eis a verdade. Nunca houve espaço para que houvesse amor entre nós... Penso eu que Lúcio não seria sinceramente capaz de amar a qualquer pessoa que não fosse ele próprio. Ele nunca amou Draco como um pai deveria. Para ele, Draco é um objeto para ser moldado e treinado para ser o mestre da Mansão Malfoy quando ele tivesse idade. Não mais e não menos. Só isso.

Nada mais do que um bicho para ser adestrado. E isso me irrita profundamente. Mas não tenho com quem reclamar. Perdi o contato com minha família depois que me casei com Lúcio, não tenho nenhum contato com ninguém. Me sinto perdida, de vez em quando. Mas continuo em pé. Sempre. Draco será sempre meu filho e isso me segura no lugar."

Quando Draco leu aquilo - aquelas duas páginas do diário de sua mãe, roubadas por alguém que ele não sabia quem era, amareladas nos cantos pela idade e pelo mau conservamento - seu estômago deu pulos horríveis dentro dele.

Como se ele soubesse tudo o que tinha acontecido. Como se ele conhecesse Narcisa Malfoy de outras encarnações. Como se ela não fosse apenas a criatura que lhe enviava doces de casa via coruja, todos os meses, em Hogwarts.

Como se ela fosse sua mãe.

Ele tinha poucas lembranças dela. Sempre solícita, distante, como uma rocha em seu canto, bordando, conversando com amigas, tomando seu chá em um canto da sala. Nunca por perto, nunca atrapalhando. Nunca se queixando. Nunca dizendo nada para contrariar seu pai.

Nunca se manifestando contra nada.

Ela tinha razão quando dizia que ele era apenas "um bicho a ser adestrado" por Lúcio. Nunca concebera a vida de outra forma senão aquela, em que o mais forte subjuga o mais fraco, que o pai manda no filho. Deveria existir outra vida?

Guardou as páginas roubadas do diário no bolso do casaco, e continuou caminhando. Agora ele sabia. Agora ele compreendia tudo. Todos os medos, toda a impotência dela diante dos mandos e desmandos do marido poderoso. O quanto ela sofria, em silêncio, para nunca atrapalhar, para nunca ser punida.

Ela o amava, sem nunca pedir amor em troca. Ela o considerava seu filho, mesmo que ele a ignorasse, e ele ignorava sempre. Não tinha conhecimento dela. Ela só existia, e era tudo o que ele sabia. Ela tinha entregado a vida por ele. 

Jóias e peles e conforto...e silêncio.  O que mais incomodava era o silêncio. Ela sempre estava no seu canto, sem incomodar, sem se fazer notar. E não porque ela queria, mas porque ela era obrigada.

Não existe espaço e tempo para manter nosso amor vivo.

Não acaba o amor que não existe.

Nós temos a existência e é tudo o que compartilhamos.

Ele sempre será meu filho, mesmo que me deteste. Mesmo que me ignore.

 

Draco parou e olhou para trás. Estava no jardim de sua casa, no caminho para voltar para Hogwarts. Podia jurar que ela estava na janela, olhando por ele. Mas quando ele se voltou, não viu nada nem ninguém.

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