VII - A criança que veio

Tiago ergueu os olhos para a série de apartamentos de tijolos à vista, todo acanhado e sujo num canto do bairro de Camdem. Não haviam árvores ou plantas, e o chão era tão sujo que mal se podia andar.Remo e Sirius estavam a seu lado, como sempre, mais para dar apoio moral do que para ajudar a achar o caminho para a casa da irmã de Lílian.

- Tem certeza que é aqui, Remo?
- É o que diz na carta.
- Caramba, mas que buraco, hein? - Sirius riu - Até meu quarto é mais limpo que esse chiqueiro.
- Pelo amor de Deus, vamos parar com isso... - Tiago suspirou - Temos que entrar logo e achar a Petúnia, antes que nos aconteça alguma coisa.
- E antes que a gente perca o trem de volta para Hogwarts. Não sei como foi que a gente conseguiu...

Tiago não ouviu as preocupações de Remo e seguiu para dentro do conjunto de apartamentos. Tudo o que tinha que fazer soava simples na teoria - falar com Petúnia sobre a doença de seu pai, que ele morreria logo e que ele queria vê-la. E que Lílian ainda precisava dela. Que eram irmãs e por isso não podiam ficar separadas.

A porta do apartamento 35 estava fechada como um túmulo. Remo e Sirius estavam atrás dele, esperando alguma reação. Tiago tocou a campainha e, cinco minutos depois, uma mulher de cabelo loiro abriu a porta.

- Petúnia Dursley?

Ela sorriu, orgulhosa.

- Eu mesma. O que os rapazinhos querem?
- Temos um recado.
- Recado? Que recado?

Tiago respirou o mais fundo que pôde e disse o que tinha para dizer:

- Seu pai está morrendo e quer ver você novamente antes de partir. Diz que sente saudades e quer poder olhar para você de novo.
- Pois ele que se dane! - Petúnia disse em voz bem alta - Por que ele não vai ver a criança que veio? A Lílian, que nasceu para salvar a pele dele?
- Porque você é filha dele, e é você que ele quer ver - Tiago disse, bravo, se retirando. Percebera que alguma coisa estava fora da ordem naquela história. Que diabo era aquela coisa da "criança que veio"?

Somente duas pessoas poderiam explicar aquilo, e uma delas era Alvo Dumbledore.

- Mas é claro que eu lhe explico, Tiago. Aliás, eu pensei que você nunca iria perguntar.

Nenhuma bronca sobre a fuga de Hogwarts. Nenhuma pergunta sobre Petúnia, Camden ou qualquer coisa do gênero. Alvo Dumbledore era um cara estranho mesmo.

Estavam os dois na sala do professor, onde uma bela fênix vermelha dormia sobre um poleiro. Dumbledore parecia compenetrado.

- Lílian nasceu com uma missão. Estava escrito no destino dela. O que vai ser, nem eu posso prever, talvez porque não consiga. Por isso ela é chamada de "a criança que veio". Existe uma profecia...Mas acho que você é um pouco novo para entender, Tiago. Eu sinto muito.
- A Petúnia vai acabar matando o pai dela.
- Esse é um destino do qual ela não pode fugir. Todas as pessoas do mundo morrem e voltam à vida...E talvez é isso o que Petúnia nunca vai saber. Ela acha que vai se livrar do pai quando ele morrer, mas o ódio e o amor, eles são como os diamantes, e duram para sempre.
- Mas isso vai fazer a Lílian sofrer.
- Ah, sim, isso é inevitável. Você também sofreu quando sua mãe morreu, não é mesmo, Tiago?

Tiago desviou o olhar, assustado. Nisso Dumbledore tinha razão. Quando sua mãe morrera, ele sentira-se inútil e incapaz de dominar a própria dor. Tinha só dez anos, mas sentia-se velho e cansado.

- Mas ela tem a você - Dumbledore sorriu - Lílian tem a você, e você tem a ela. É tudo o que você precisa saber agora. Sim, ela vai sofrer, mas vai ter com quem contar.
- Acha mesmo?

Dumbledore sorriu, silenciosamente. Parecia pensar.

- Acho. De certa forma, Tiago, está escrito.