Ele tinha de admitir - adorava quando as pessoas ficavam com medo dele. Quando elas olhavam para ele na rua e tinham vontade de sair correndo. Ele se sentia O Grande Salazar, Grande Bruxo, o terror de Dublin, a Coisa que as pessoas mais odiavam no mundo.

Na verdade, ele sabia que era apenas o filho do sujeito mais estranho da cidade, um homem que por muito pouco não foi queimado na fogueira inquisidora. Joshua Slyterin (Slytherin para alguns) tinha muito poder em Dublin, mas as pessoas tinham mais medo que respeito por ele. E o filho de Joshua, Salazar, também era mais temido do que respeitado. Quando ele caminhava pelas ruas, podia até sentir os olhares gelados das pessoas, querendo que um buraco se abrisse no meio da rua e engolisse o jovem Slytherin.

Como o pai, Salazar era muito ambicioso. Qualquer coisa era válida para alcançar seus objetivos, magia e força inclusive. Já perdera a conta de quantas pessoas enganara para conseguir o que tinha nas mãos hoje - uma fortuna considerável e poder, muito poder. Não sentia falta de que as pessoas o "amassem" ou "respeitassem". Não tinha a menor idéia do que aquilo significava.

Desde sempre, eram somente ele e seu pai - o Velho Slytherin, como as pessoas se referiam a ele - na casa onde moravam, uma casa simples mas que escondia tesouros vindos de todas as partes do mundo conhecido. O Velho Slytherin não tinha emprego fixo, e nem precisava. Vivia de enganar e de iludir os outros. Eventualmente apostava. Apostava em qualquer coisa, apenas pelo prazer de perder e ganhar dinheiro com a sorte alheia.

Salazar suspeitava que o Velho tinha matado ou mandado sumir com sua mãe. Ou que ela tinha fugido. Em vinte e dois anos de vida, nunca tinha ouvido o pai falar dela, e mesmo as pessoas mais chegadas ao jovem Slytherin se calavam quando se referiam à "jovem Layla". Layla era o nome de sua mãe, ela era bruxa e vinha da Inglaterra. Era tudo o que sabia sobre ela. Como ela se parecia, como ela era, isso era apenas trabalho para adivinhações. Suspeitava que tinha herdado dela os olhos castanhos, pois o Velho Slytherin ostentava olhos verdes como esmeraldas.

De vez em quando - muito raramente - o Grande Bruxo dava lugar ao Duvidoso Filho, que não entendia as atitudes do Velho Slytherin. O que ele queria, o que ele fazia - e o que ele fizera com Layla? Ele, Salazar, era tão frívolo com as mulheres quanto era com todo o resto. Tinha em conta que uma mulher se enforcara depois que ele a abandonara. Não podia fazer nada. Não sentia amor por ninguém a não se por si mesmo, e sabia que estava errado. Mas ainda assim, por conveniência, não mudava. Era melhor ser o Grande Bruxo a tentar compreender o mundo.

A farsa acabou no dia em que o Velho Slytherin morreu. Pois como estava sozinho no mundo, e sem defesa alguma contra a horda de gente que queria invadir a casa e roubar os propalados tesouros do falecido bruxo, Salazar não viu outra alternativa senão dar no pé de Dublin o mais depressa possível. Pegou tudo o que pôde carregar (e isso incluiu sua varinha, vinte e um centímetros, cardo e pêlo de unicórnio) e sumiu, aparatando dali para o único outro lugar que conhecia - a terra de onde veio sua mãe, Londres. Sem perceber que deixara todos os tesouros de seu pai para a turba violenta que arrebentou a porta, o jovem Slytherin sumiu na bruma.

Continua...

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