Godric olhou para o céu mais uma vez. A cor de chumbo nunca lhe fora de grande agrado, porque ela anunciava neve e frio - e o frio lhe trazia más lembranças. O castelo onde morava era a coisa mais gelada que ele jamais conhecera, por vezes mais gelada do que as ruas. As lareiras da casa viviam acesas, e na opinião de Godric, nem mesmo se eles queimassem todas as florestas da Inglaterra, eles conseguiriam aquecer aquele castelo.

O pai de Godric era um duque e por isso a casa da família Gryffindor era cheia de ouro e coisas que vinham de todos os cantos do mundo conhecido. Godric vinha a ser o único filho do Duque de Gryffindor, e ele realmente confiava que o filho se tornasse alguma coisa "decente e nobre" e não seguisse "as maluquices de sua mãe".

As "maluquices" de Lady Irene Gryffindor, no entanto, eram as coisas que Godric mais entendia. Ela era uma bruxa. Sempre soubera que ela tinha sido uma bruxa, uma poderosa feiticeira que não tinha medo de nada nem de ninguém. Corajosa e sempre forte ante a dor. O oposto completo de seu marido, o Duque de Gryffindor, que preferia morrer a ter que entrar em uma luta com alguém. A palavra era a arma do pai de Godric, nunca as espadas ou as varinhas mágicas.

Godric herdara a varinha de sua mãe - pena de fênix e cedro, vinte e dois centímetros. Muito boa para feitiços de transfiguração. Tudo o que sabia de magia, ele aprendera com os livros de sua mãe. No continente haviam escolas para bruxos - pois era aquilo o que Godric e sua mãe eram, bruxos. O Duque de Gryffindor não suportaria ouvir que seu único filho tinha a mesma "doença" da mãe.

Mas era a verdade e Godric sabia enfrentar isso com a dor que o assunto merecia. Tinha seu caminho no famoso Beco Diagonal, o gueto dos bruxos de Londres. Tinha seus amigos bruxos. Tinha a sua vida encaminhada, longe da corte e longe de todos os jogos de poder que o reinado dos sem-magia tinham. Não desejava aquela vida para ele.

Na noite em que decidira abandonar o castelo, o frio era tanto que congelava sua alma e seus nervos. Ainda assim nunca pensara em desistir. Se ficasse, seu pai o transformaria em um joguete nas mãos do Rei e de sua corte.

Lembrara de empacotar todos seus livros e sua varinha. Olhou mais uma vez para o belo retrato de Irene Gryffindor, sorrindo para a eternidade em um quadro que seu marido mandara pintar um ano antes de sua morte. E com o olhar de paz de Irene ainda na memória, Godric pegou um cavalo e partiu, sob o vento, para o Beco Diagonal.

Continua...

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