"Lembre-se das flores."

(Snape-fic em homenagem à Ana Cláudia e o pessoal da Sexy Snape)

Se somos o que somos, só o somos pelo amor
que destrói e reúne os homens à sua volta
Se estamos como estamos, a culpa não foi só nossa
Existiu antes um destino, um plano a ser cumprido -
Existiu antes o caminho que deveríamos ter percorrido.

E se estamos aqui, um ao lado do outro
E se somos o que somos, e se existe uma razão,
Eis que somos senão os joguetes do destino
ao acaso como as flores que nascem no campo a esmo
e sempre retornam, estação após estação.

(The Liverpool Affair, "Estação Após Estação")

Um dia, limpando gavetas em sua sala, ele encontrou um belo cartão. Não podia existir coisa mais simples na face da Terra: duas flores coladas num pedaço de pergaminho, e uma mensagem escrita com letra floreada, a tinta já desbotando. Ele pensou em jogar fora o cartão, mas sua mão deteve o gesto. Parou para ler a mensagem, já muito contrariado, porém igualmente curioso.

"Ah, Severo, se um dia você tiver que se lembrar de mim...


Peço que não se lembre de meus olhos ou de meu cabelo, de minha voz ou de meus gestos. Um dia vou envelhecer, e meu cabelo vai ficar branco - meus olhos perderão o brilho - minha voz vai mudar e meus gestos serão menores e menos expansivos.

Também não se fie às promessas de amizade e não espere que eu sempre lembre de você com amor - pois somos os dois humanos, antes de sermos bruxos, e os sentimentos humanos são variáveis.

Se tiver que lembrar de mim, lembre-se das flores.

Você estava no sexto ano e eu estava no quinto, e estávamos passeando em Hogsmeade e você disse que detestava flores porque detestava tudo o que pudesse lhe lembrar alegria - ah, meu Severo, quanta coisa que eu poderia lhe dizer sobre as flores. Toda a beleza que se esconde nelas, como se esconde no mundo atrás desses seus olhos "assustadores".

Eu amei você, Severo, e se parar para pensar eu ainda, ainda amo sim. Se o tempo vier a nos separar (eu sei que isso acontecerá), olha para as flores, se lembra de tudo o que eu te disse - toda a beleza que se esconde dentro desses seus olhos assustadores.

Seguimos caminhos diferentes - você escolheu ser o que você é, e eu estou seguindo o meu caminho. Tome cuidado. É tudo o que te peço.

Jennifer B."

"Bones", Severo suspirou, "Jennifer Bones".

Morta por Voldemort, como todos os Bones tinham sido. Tinha se esquecido dela - como ela tinha animado seus dias como aluno, já tão distantes no tempo.

"Lembrar das flores! Justo eu", Severo riu. "Sempre detestei flores."

Mas não pôde deixar de sorrir ao rever as flores no cartão. O destino dos dois tinha sido tão alheio e tão diferente de tudo o que "poderia" ter sido. E o que poderia ter sido? Se ela tivesse sobrevivido, ele não tivesse ido para "o lado escuro" do poder, e depois tivesse sido resgatado? Talvez as flores tivessem durado mais tempo, ou o amor tivesse realmente existido. Não poderia prever. Não se arriscou. Por via das dúvidas, colocou o cartão de volta na gaveta, escondendo ali o que queria dizer ou sentir.

Jennifer gostava de seus olhos...

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"Estação após Estação", música do grupo The Liverpool Affair. Todos os direitos reservados.

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