Balada do duelo invisível
(para o quinteto Ana Cláudia, Aline, Adriana, Melody e Morgana - amigos são a família que a gente escolhe!)

Eu ergo minha voz aos céus e canto
para narrar a incrível lenda do duelo invisível
que um herói de nosso mundo travou em terra inimiga
para se defender de um mal que nunca cessava.

Nunca se perguntaram sobre a vida pregressa de Harry. Sabiam que ele tivera um "tempo péssimo" com os trouxas, mas não sabiam exatamente quão ruim ele tinha sido. Harry nunca falara sobre aquilo, nunca se importara em contar. Nem mesmo para Rony, que ele considerava um grande amigo, talvez o melhor que ele já tivera.

Harry sempre desejara esconder o passado, fingir que ele não existia, que ele nunca tinha acontecido - que sua vida fora sempre Hogwarts e Hogsmeade, o mundo dos bruxos. Mas eis que ele tivera que retornar para o Surrey, para a cidade de Little Whining, para mais um verão ao lado dos Dursley. Tanto ele quanto Duda já tinha dezesseis anos, uma idade importante na Inglaterra dos trouxas - é quando os jovens podem tirar a carta de motorista e respondem criminalmente por seus atos. Obviamente, Duda já tinha um carro, comprado pelo Sr. e Sra. Dursley - e obviamente o carro já estava em petição de miséria. Obviamente, claro, o aniversário de Duda era a coisa mais esperada da casa - e Harry preferia passar o dia na rua do que aturando as festividades.

Desde que existe o mundo, o mal existia
esgueirando-se pelas frestas do amor que não resiste
às palavras amargas do ódio e do preconceito.
Só existe um antídoto contra o ódio
e este nasce da pessoa que odeia, como água de um rio.
Toda maldade carrega em si sua cura -
como todo amor carrega em si as sementes de seu fim...

Fora para um pequeno pub no centro da cidade, e por lá ficara, se abrigando do vento forte que varria a rua. O dono do local, um senhor de meia-idade, cuidava com muito cuidado de uma planta num vaso em cima do balcão. Harry observava-o com atenção. A árvore - era uma árvore, só podia ser - era minúscula, tinha dois palmos de altura.

O dono da loja observou Harry com um sorriso.

- Não é bela? - ele apontou a planta - É um plátano bonsai. Está na minha família há quatro gerações.

- Isso é muito tempo - Harry disse, abismado.

- Sem dúvida. Todas as plantas bonsai duram séculos, se você se importa com elas. São como os amores que temos - se cuidadas com respeito, nunca fenecem.

 

Se você é capaz de lutar contra um homem e derrubá-lo -
mesmo que tenha sua espada nas mãos
e mesmo quando seu inimigo é incapaz de reagir
por um instante você desejará matar, eis o Duelo Invisível
 então se arrisca, põe à prova a Verdade Indivísivel
de que nem mesmo um inimigo merece a morte sem poder lutar.

 

Ouviu-se o som de um carro batendo, perto do pub. Harry e o dono do bar saíram, assustados. E lá estava, na esquina, um carro esporte que - pela trajetória de postes derrubados - andou derrapando a toda velocidade pela rua tranqüila.

Harry reconhecera o carro e correra para ele. Era Duda, só podia ser ele. Sentia em sua alma que o inimigo - o garoto que mais odiava na Terra, mais do que Draco - aquele que o fizera infeliz e o torturara (senão fisicamente, em sua mente, onde mora a dor mais profunda que um humano pode sentir) - ele estava ali, nos destroços do carro.

Sentiu que poderia, com um gesto, uma palavra, acabar com tudo. Não magia - não arriscaria ser preso em Azkaban pelo uso de magia ilegal por causa de Duda Dursley. Mas um gesto - ou a falta de um gesto - e, incrível, Dudley estaria morto. O filho de Válter e Petúnia Dursley morto, e não haveria descendência para aquele ódio que eles sentiam pelo mundo de Harry - o ódio nascido de ter sido diferente, de ter sido entregue em vão, nascido da inveja e da raiva - estaria morto.

No entanto, nada fez. Nem gesto nem palavra.

Só existe um antídoto contra o ódio
e eis que este é senão o perdão na hora da morte
a palavra não esperada, dita na hora em que se espera a morte
eis o que te faz especial, eis o que elimina o mal nascente.

Ele observou a ambulância partir, silenciosamente. Se lembrara daquela árvore e do que o homem do bar lhe dissera: "os amores que temos...cuidadas com respeito, nunca fenecem". O ódio, ao contrário das árvores eternas e dos amores, precisava eternamente ser alimentado com seu próprio sangue. Como diziam os trouxas, o ódio conquistava somente o ódio.

E eis que ele se vira ali, frente a frente a um Duda quase morto, no leito do hospital - e não conseguia odiá-lo. Duda sempre fora mais forte e sempre fora mais perigoso do que qualquer Malfoy, porque ele dominava a memória de Harry, a memória de uma criança sem pai nem mãe, vivendo eternamente de favor com pessoas que o queriam pior do que morto. Não conseguia mais odiá-lo. Nem mesmo sentir pena. Era como se tivesse sido libertado de um fardo pesadíssimo.

Eu ergo minha voz aos céus e canto
para narrar a incrível lenda do duelo invisível
que um herói de nosso mundo travou em terra inimiga
para se defender de um mal que nunca cessava.


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